quinta-feira, 21 de abril de 2011

As Políticas voltadas à Informática e Educação, voltam-se a metas de Inclusão Digital e Social. Você acredita que os programas governamentais chegam as bases? O que pensar nesse sentido?

Considerando uma ferramenta estratégica para formação da cidadania e uma melhor inclusão de jovens na sociedade, as TICs (Tecnologias de Informática e Comunicações), assume um papel importante na educação profissional, não só pelo desenvolvimento da estrutura sócio/econômica, mas, principalmente, porque simboliza uma associação entre trabalho e vida. Embora apropriar-se de conhecimentos e desenvolver competências represente uma visão contraditória na atualidade e confunde o sentido de cidadania, a educação está a serviço, ora para construir um cidadão produtivo, ora um cidadão transformador, tornando-se complexo o discurso educacional para muitos, pois a educação se configura de forma dicotômica e sucinta inúmeros questionamentos.
O ensino profissionalizante encontra-se no território nacional desde a década de 1930, e intensificam-se durante os anos de 1956 a 1961, com o processo de industrialização, tendo por finalidade capacitar às camadas populares para a formação de mão-de-obra para a indústria emergente. Sob a inspiração da Teoria do Capital Humano, surge a idéia de profissionalização do ensino secundário numa concepção unicamente tecnicista de formação de mão-de-obra qualificada e indispensável ao desenvolvimento das indústrias nascentes. A evolução científica e tecnológica trouxe transformações para o processo de produção, conseqüentemente influenciando a organização da vida em sociedade, acelerando o crescimento das economias em processo de intercomunicação e interdependência com o Capital, impulsionando a economia para uma integração ao mercado mundial. Assim, aparece um novo contexto para as relações de mercado, situando-as como relações globalizadas que trazem a competitividade e obrigatoriedade da revisão e introdução de outras formas nos processos de produção e comercialização e não mais cabia neste cenário o modelo produtivo fordista/taylorista configurado em operações elementares que não requeriam um nível de escolarização mais aprofundada, neste modelo de produção em série e padronizada, a educação dos operários era ínfima e limitava-se ao treinamento para a produção.
Segundo RICHARDSON (1998), no Brasil, as idéias de Schultz inspiraram inúmeros atores vinculados aos governos militares pós-64. Neste período predominou a idéia de que, através de políticas educacionais impostas de forma tecnocrática, seria possível promover o desenvolvimento econômico. Assim, justificando o ideário político da época em sua formulação sistemática de uma educação voltada para a formação de “capital humano”, produtora de capacidade de trabalho, potenciadora do fator trabalho, sendo um investimento como qualquer outro. “As inovações tecnológicas, longe de serem variáveis independentes, um poder fetichizado autônomo, estão associadas às relações de poder político-econômico e, portanto, responde à demanda destas relações. Em seguida cabe mostrar que o ajuste neoliberal se manifesta no campo educativo e da qualificação por um revisitar e “rejuvenescer” a teoria do capital humano, com rosto agora mais social.” (RICHARDSON, 1998, p.150).
Para alguns autores, o sistema educacional é um reflexo da reprodução da divisão capitalista do trabalho, sendo esta organização em muitos aspectos, uma réplica das relações de dominação e submissão do mundo econômico, tendo por fundamento básico que a educação e o treinamento são criadores de capacitação para o trabalho e mascara a desigualdade social, sob o signo do qual a concepção fundante da educação é de competência de cada um à medida que se investe em educação se tem ou se cria oportunidades individuais, desde que se invista em capacitações.
Com a Lei de Diretrizes e Bases - LDB (9394/96) é definida uma nova noção para o gerenciamento da educação, sendo reformulado o currículo escolar até então em vigor, passando a organização educacional a ser gerida sob a noção de competências. Esta mudança possibilitou o ensino médio passar a fazer parte da educação básica, o então ensino técnico desvinculou-se do ensino médio e integrou-se às diferentes formas de educação, e assim, destinou-se à preparação básica para o trabalho e a cidadania, possibilitando cursos específicos que habilitam para uma profissão técnica ou para postos de trabalhos definidos, em escolas técnicas.
Esta autonomia dada às escolas através de projetos pedagógicos próprios estabeleceu uma educação profissional articulada com o ensino regular e ou por formas diversificadas de educação continuada, onde a lei converte a “unitariedade” do ensino em problema pedagógico de viés ideológico, que atende aos interesses da burguesia neoliberal, portanto, capitalista.
Por exigência do pensamento neoliberal, a educação profissional passou a substituir a formação profissionalizante do trabalho para o gerenciamento das competências, gerando um novo profissionalismo, embasado numa pedagogia ancorada na formação por competências, habilidades e adaptação a nova demanda do mercado empresarial, cuja dinâmica pressupõe a capacidade para a mobilidade entre diferentes ocupações visando à empregabilidade, onde o trabalhador vende suas competências através de salários obtidos pela produtividade.
Com o advento da globalização do capital e as novas tecnologias da informação, as estruturas organizacionais das empresas passaram a requerer uma flexibilização do profissional a cada dia mais aprimorada, maleável e adaptada ao mercado consumidor, de forma que a educação deste profissional tem de ser continuada, senão estará fadado a se tornar obsoleto. Neste contexto, a educação é a grande chave, pois nos molda de maneira que aceitemos tudo isso de boa vontade em extrema contradição ao real sentido básico e fundamental da educação, que deveria ser uma formação política, social, humanística e não só formação de mão-de-obra para suprir a demanda do mercado.
O termo “inclusão digital”, de tão usado, tornou-se palavra recorrente. É fato que existem programas governamentais voltados para esta área, mas, de acordo com o estudo feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), existe 14.140.984 de analfabetos no Brasil, este levantamento foi efetivado com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), por si só mostra um contingente que não tem acesso a estes programas, diante desta estatística, é fácil perceber que a clientela destinada está fora da esfera pública para qual os programas foram criados.
Colocar computadores na mão das pessoas ou vendê–lo a um preço menor não é, definitivamente, inclusão digital. É preciso ensiná–las a utilizá–lo em benefício próprio e coletivo. Incluir digitalmente não é apenas “alfabetizar” a pessoa em informática, mas também melhorar os quadros sociais a partir do manuseio dos computadores. Muita gente acha que incluir digitalmente é colocar computadores na frente das pessoas e apenas ensiná–las a usar Windows e pacotes de escritório. Esta interpretação equivocada tende a propagar cenários surreais da chamada inclusão digital, como é o caso de comunidades ou escolas que recebem computadores novinhos, mas que nunca são utilizados porque não há linha telefônica para conectar a internet ou porque faltam professores qualificados para repassar o conhecimento necessário.
Diante disto, o professor/educador é peça chave do processo ensino/aprendizagem, devendo repensar o seu papel quando confrontado com o atual contexto sócio-histórico-cultural e as novas tecnologias no ambiente educacional, pois a construção do conhecimento está sendo influenciado para além das informações ministradas em sala de aula. Assim, o professor não será um repassador de informações, mas, um guia que ajude os alunos a navegar em mundo de recursos intelectuais ilimitados. “Saber ensinar não é transferir conhecimentos, mas criar as possibilidades para sua produção ou a sua construção”. (FREIRE, 1996.)
No Brasil, a estrutura do trabalho baseado no modelo de educação tecnicista é útil para o desenvolvimento econômico do país, tendo-se em vista o projeto neoliberal para a educação, mas um país não se desenvolve só pela força do trabalho ou contingente de trabalhadores técnicos “a moda” do fordismo, taylorismo, toyotismo ou mesmo acumulação flexível de uma educação continuada voltada e conformada para o mercado do capital, é preciso uma educação baseada nas Ciências Humanas que leve o trabalhador a conscientização de sua humanidade, numa atitude crítica, política diante da vida de relação com a sociedade em que está inserido, visando à liberdade e valorização dos direitos inalienáveis do ser humano enquanto sujeito de direitos.
Pode-se afirmar que as reformas no ensino brasileiro se deram para adequar o país à nova forma de produção e consumo sob a ofensiva neoliberal no campo educacional.


Referências

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessário à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra. 1996.

http://www.ipea.gov.br

Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996. In: Diário Oficial da União de 23 de dezembro de 1996.

RICHARDSON, Roberto Jarry. A escola do século XXI. Artigo apresentado no Fórum de Debates sobre as Políticas e as Reformas Educacionais - UESC/BA, 1998.

MANFREDI, Silvia Maria. Educação Profissional no Brasil. São Paulo: Cortez, 2002.

Patrícia Helena

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